Estava na hora de ir dormir, como sempre não durmo na hora certa, fico acordado fazendo o que tiver pra fazer. Gosto de ficar olhando a televisão, aquela grande caixa de mentiras que atrai e ilude as mentes de pessoas fracas deixando-as na beira da ignorância, nunca foram tão bons com ilusão como são hoje. Não queria dormir, meu sono ainda não estava perto de me levar a fechar os olhos, não queria ter mais sonhos loucos sem respostas, mais estranhos passeando em minha mente. No último mês tive os mais diversos e assustadores sonhos, se é assim que posso chamar...
Fui na janela do meu quarto que fica no sótão, apesar de todo o desconforto, de ser escuro eu gostava dele, e ficava o mais distante possível do resto do mundo. Olhei para fora, na casa de Thais tentando encontra - lá na varanda , não a vi em nenhum lugar. Deitei na minha confortável e compreensiva cama, fixei o teto e turbilhões de pensamentos vieram em minha cabeça, mas não queria escutá-los apenas vê-los desmancharem em minha mente, no escuro de meus sonhos.
Foi inevitável não cair em mais um daqueles pesadelos, de repente eu estava em uma cidade abandonada cheia de relevos, subidas e descidas que não pareciam ter fim, tão enormes. Caminhava como se soubesse onde queria chegar, via as construções, casas, prédios tortos e velhos com suas paredes sujas caindo no chão entre pedras soltas numa estrada de terra. cada passo meu regredia dois atrás e o caminho não parecia nunca se completa. Pisei em algo estranho, pensei que era mais umas das pedras deformadas mas quando virei e olhei era um cadáver de uma mulher com cabelos compridos e negros com o céu naquele momento saindo dentre a espinha do chão, não hesitei, segui o meu caminho em frente, enquanto andava ouvi uma voz suplicante repetir várias e várias vezes a palavra "DESCULPA" tão apavorante aquela voz que cai de joelhos tapando os ouvidos. Já não agüentava mais minhas pernas, estavam cansadas minha coluna não ia mais suportar tamanho fardo, implorei para sair daquele lugar enquanto a voz agonizante pedindo desculpas não casava, senti meus ouvidos derramarem sangue, naquele momento comecei a ver vultos, grandes manchas pretas passando em minha vista, enquanto a voz ao longe diminuía, aumentava a quantidade de vultos em minha visão, até ficar tudo escuro e eu não conseguir nem ver nem ouvir nada.
Acordei.
Eram exatamente três horas de uma madrugada fria e vazia, apesar de todo o frio meu corpo ardia em chamas e um calor rasgava minha garganta. -Levantei. - olhei, na rua o mesmo escuro constante estava estranha e gélida. O medo agora corria em minhas veias, nunca tinhasentido algo tão forte assim. Me afasto da janela, sento na cama, fechos os olhos e tento não pensar em tudo que vi em meu breve sono. Começo a sentir um terrível frio que me faz arrepiar e me cobri. Ali, sentado ao centro, agarro meus joelhos e oro.
Durante toda a noite não cogitei a idéia de me levantar dali, nem ao menos descer na cozinha para pegar um copo com água. A noite passou, vi os primeiros raios do sol invadirem e iluminarem o pequeno sótão, me aliviei, mas não parei de pensar no sonho que de longe fora o mais psicodélico que já tive, foram instantes de agonia e terror que ainda quebra meus pensamentos. Finalmente reuni forças para me levantar, parecia tudo normal naquela manhã de sexta. Nunca deixei um medo chegar tão profundo em minha mente, já não era fácil pensar sem temer. São tantos mistérios que passam despercebidos aos meus olhos, não sei se devo e a quem recorrer meus conflitos.Tomei meu café da manhã sem falar nada. Minha irmã Lurdes, perguntou se eu estava bem. -eu e lurdes somos adotados, fomos órfãos ainda pequenos, e desde de então, ela por ser mais velha cuida de mim até hoje. digamos assim.- Ignorei ela continuei tomando meu café, não podia contar a ela meus pesadelos, ela é fascinada em decifrar sonhos e muito boa nisso, não ia me deixar em paz enquanto não soubesse o que foi o sonho.
- Tem certeza que não aconteceu nada?
- Só uma forte dor em minha cabeça.
- Quer algum remédio?
- Eu vou ficar bem.
Na frente de casa esperava por Kaio e Thais, toda manhã esperava eles ali, para irmos juntos á escola. Quem apareceu primeiro, até pelo fato de morar ao lado foi o Kaio.
- Oi
- OI
- Que cara é essa?
- A minha! que foi?
- Nada... não dormiu num foi?
hesitei
- Não muito. -mudei o assunto rápido-
- Preparado?
- Para que?
- Como assim Para que? você não se preparou para o teste?
- ahh.. o teste. hum..é, sei..
- Não estudou né!
Nesse momento algo chama minha atenção. era a Thais vindo ao nosso encontro . Seus cabelos pretos que brilhavam á luz do sol, seu jeans apertado, marcando cada curva de seu corpo, e vestida com uma de suas camisetas esquisitas, com os dizeres bem grandes na frente: IN THE SAHDE.
- Vamos?